Duas frases de impacto bastaram para o astro de “Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis” jogar luz em um tema que já incomoda boa parte da classe artística. Simu Liu criticou abertamente a proposta de trocar figurantes por inteligência artificial (IA) nos próximos lançamentos de Hollywood.
A fala surgiu após declarações do investidor canadense Kevin O’Leary, que enxerga nos atores digitais uma oportunidade de enxugar orçamentos milionários. O assunto despertou reação imediata de Liu e reacendeu a discussão sobre tecnologia, direito trabalhista e o futuro de quem aparece ao fundo das cenas.
O que motivou a discussão sobre IA nos sets
O estopim foi a produção independente “Marty Supreme”, ainda em fase de pós-produção. Kevin O’Leary, conhecido por “Shark Tank”, contou que algumas sequências do filme exigiram até 150 figurantes por 18 horas seguidas. Segundo ele, a presença física desses profissionais empurrou o custo final para perto de US$ 90 milhões.
Para O’Leary, a matemática é simples: colocar “agentes de IA” ocupando esses espaços visuais cortaria a despesa quase pela metade. “O mesmo diretor poderia gastar US$ 35 milhões e filmar dois longas no lugar de um”, argumentou o empresário, defendendo que os extras “não são personagens principais, apenas parte da paisagem”.
Simu Liu critica uso de IA em Hollywood e sai em defesa dos figurantes
Minutos depois de a entrevista viralizar, Simu Liu lançou nas redes sociais um recado direto: “Claro, a culpa é dos figurantes que ganham de 15 a 22 dólares por hora, não dos que levam milhões acima da linha de produção”. A frase foi suficiente para colocar o ator nos assuntos mais comentados e fortalecer o coro contra a substituição de mão de obra humana.
Para o protagonista da Marvel, trocar profissionais por algoritmos diminui oportunidades, precariza salários e escancara a desigualdade entre quem recebe cachês milionários e quem vive de diárias. A resposta também posiciona Liu ao lado de sindicatos que já enxergam na IA uma ameaça real aos postos de trabalho de base.
Impacto nas negociações de bastidores
A crítica alia-se ao debate que marcou as recentes greves de roteiristas e atores em Hollywood. A categoria reivindica, entre outros pontos, garantias mínimas contra “digital doubles” gerados sem consentimento ou pagamento justo.
Guillermo del Toro e outros nomes de peso engrossam o coro
Simu Liu não está sozinho. O diretor vencedor do Oscar Guillermo del Toro afirmou que “prefere morrer” a recorrer à IA em seus filmes, comparando a prática às tentativas de Victor Frankenstein de driblar a morte. A declaração ganhou força em festival recente, onde del Toro reforçou a necessidade de processos criativos genuinamente humanos.
Outro exemplo veio à tona com o anúncio da performer digital Tilly Norwood, personagem totalmente criada por computador. O Sindicato dos Atores (SAG-AFTRA) reagiu imediatamente, dizendo que “criatividade deve permanecer centrada no ser humano” e chamando o uso de performances não autorizadas de “roubo”. Para a entidade, Tilly não é atriz, mas sim um algoritmo treinado em milhares de interpretações coletadas sem pagamento ou licença.
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Argumentos contra atores virtuais
O sindicato destaca que figuras sintéticas não possuem vivência, emoção ou bagagem cultural capaz de conectar-se ao público. Na prática, um filme que se apoia em IA pode até cortar custos, porém cria o “problema moral” de reduzir postos e desvalorizar a arte interpretativa.
Recado de Simu Liu expõe disputa entre economia e ética
Ao dizer que os salários dos figurantes não são o vilão do orçamento, Liu jogou luz sobre a distribuição de renda em Hollywood. Enquanto executivos e estrelas do topo recebem cheques milionários, profissionais que compõem a multidão (e dão vida ao cenário) sobrevivem com pagamentos por hora.
Para o ator, a solução não é descartar pessoas, e sim rever cachês de cima para baixo. A visão dialoga com os protestos recentes que pedem mais transparência nos ganhos de executivos e participação de lucros para equipes técnicas.
O papel dos figurantes no resultado final
Extras conferem profundidade às cenas, autenticidade às narrativas e ajudam o espectador a mergulhar em festas, batalhas ou multidões urbanas. Eliminar essa camada humana pode comprometer a naturalidade e gerar resistência do público, especialmente em novelas e doramas, nicho que valoriza expressões sutis no fundo da tela.
Debate sobre IA deve esquentar futuras produções
Do ponto de vista técnico, softwares de crowd simulation já estão prontos para gerar figurações digitais em massa. No entanto, a discussão levantada por Simu Liu e apoiada por nomes como del Toro e SAG-AFTRA mostra que a indústria ainda busca equilíbrio entre inovação e responsabilidade social.
Estúdios que miram bilheterias globais precisam, cada vez mais, ponderar economia de CGI com a percepção do público. Nas redes, fãs de cinema, doramas e novelas costumam valorizar a “alma” presente em rostos desconhecidos que preenchem a tela — algo difícil de replicar em 0 e 1.
Por enquanto, a fala de Liu coloca pressão sobre produtores que planejam usar IA para enxugar folhas de pagamento. O ator reforça que a discussão não é meramente sobre tecnologia, mas sobre justiça no trabalho. Acompanhando o assunto, o site 365 Filmes seguirá de olho nos próximos capítulos desse embate entre algoritmos e atores de carne e osso.
