‘A House of Dynamite’, thriller da cineasta Kathryn Bigelow lançado em outubro, continua dominando o Top 10 da Netflix e arrancando elogios do público e da crítica. Entretanto, o filme entrou na mira do Departamento de Defesa dos Estados Unidos, que questiona a fidelidade dos fatos exibidos na produção.
Um memorando interno do Pentágono, obtido pela Bloomberg, aponta “angústia” quanto a supostos erros envolvendo o sistema de defesa antimísseis terrestre do país. A equipe militar diz já preparar material para “corrigir pressupostos falsos” e detalhar como funcionam, de fato, os interceptadores intercontinentais.
O que diz o memorando do Pentágono
No documento, oficiais afirmam que o longa subestima a eficiência do sistema de interceptação dos Estados Unidos. No filme, mísseis defensivos falham ao tentar deter uma ogiva nuclear, algo descrito como recurso dramático, mas distante da “realidade dos testes”, segundo o órgão.
Outro ponto levantado pelos militares é o custo do programa. Enquanto o secretário de Defesa fictício, vivido por Jared Harris, reclama dos 50 bilhões de dólares gastos em “cara ou coroa”, o texto oficial admite que o investimento “é alto”, embora não se aproxime do prejuízo “de permitir que um míssil nuclear atinja o país”.
Principais pontos contestados pelos militares
A precisão dos interceptadores é o aspecto mais sensível. Em ‘A House of Dynamite’, os armamentos são descritos como 61% confiáveis. Já o Pentágono sustenta que, há mais de uma década, os modelos atuais registram “100% de acerto em testes”.
O roteiro também ignora cenários mais complexos, como ataques simultâneos com múltiplos mísseis ou iscas que confundem radares. Para a cientista Laura Grego, da Union of Concerned Scientists, a ameaça retratada no longa “é das mais fáceis” quando comparada a possibilidades reais.
Resposta da equipe do filme
Em entrevista à MSNBC, o roteirista Noah Oppenheim contestou a narrativa militar. Ele afirma ter conversado “com muitos especialistas em defesa antimíssil, todos em on”. Oppenheim diz que o que se vê em tela “é, esperamos, um retrato bastante fiel” dos procedimentos em caso de ataque balístico.
O escritor reconhece a “imperfeição” do sistema atual e aproveita para provocar o governo: “Se o Pentágono quiser discutir melhorias, estamos prontos”. Segundo ele, o thriller apenas expõe fragilidades que deveriam entrar no debate público.
Histórico de polêmicas em obras de Kathryn Bigelow
Não é a primeira vez que a diretora recebe críticas por questões factuais. ‘Guerra ao Terror’, vencedor do Oscar, foi celebrado como entretenimento, mas contestado por veteranos que apontaram imprecisões sobre a rotina militar no Iraque. Já ‘A Hora Mais Escura’ enfrentou acusações de suavizar o papel do governo Barack Obama na caçada a Osama bin Laden.
Imagem: Imagem: Divulgação
Agora, com ‘A House of Dynamite’, Bigelow volta a navegar em território realista, explorando bastidores do poder em Washington. A reação oficial, contudo, pode reforçar a visibilidade do título — fenômeno semelhante ao visto com a série ‘Boots’, também atacada recentemente por setores do governo norte-americano.
Possíveis impactos na audiência e na Netflix
Mesmo sob fogo cruzado, o filme mantém 79% de aprovação da crítica e 77% do público no Rotten Tomatoes. Além disso, segue no topo do ranking global da plataforma de streaming, indicando que a polêmica, por ora, não afeta a popularidade.
Para o 365 Filmes, casos como esse mostram que debates sobre verossimilhança podem, na prática, servir como combustível de marketing. Quanto mais o Pentágono rebate, maior a curiosidade dos assinantes em conferir a produção de 113 minutos estrelada por Idris Elba, Rebecca Ferguson e Jared Harris.
Detalhes de produção e elenco
Dirigido por Kathryn Bigelow e escrito por Noah Oppenheim, ‘A House of Dynamite’ conta com produção de Brian Bell e Greg Shapiro. A trama acompanha diferentes setores do governo americano na corrida contra o tempo para definir a resposta a um míssil balístico intercontinental prestes a atingir o país.
No elenco principal, Idris Elba interpreta o presidente dos Estados Unidos, enquanto Rebecca Ferguson vive a capitã Olivia Walker, peça-chave na operação de defesa. Jared Harris encarna o secretário de Defesa Reid Baker, responsável por questionar a eficácia dos interceptores e o bilionário investimento no sistema.
Conclusão temporária do embate
Até o momento, o Pentágono reforça que não foi consultado pela equipe de produção e sublinha que o thriller “não reflete as prioridades da atual administração”. Do outro lado, Bigelow e Oppenheim defendem o filme como um alerta plausível sobre a possibilidade de falha de dissuasão nuclear.
Se a troca de críticas seguirá ou não para outra instância ainda é incerto. Por enquanto, o público segue como principal vencedor, com acesso a uma obra que combina tensão política, ação militar e discussões reais sobre segurança global — ingredientes que garantem fôlego longo na biblioteca da Netflix.
