Guillermo del Toro volta ao terror gótico com Frankenstein, previsto para 17 de outubro de 2025, e altera um ponto-chave da obra de Mary Shelley que muda totalmente o foco do enredo.
A decisão aproxima o filme do recente Nosferatu, de Robert Eggers, lançado em 2024, criando um diálogo entre dois monstros clássicos, paixões impossíveis e críticas à sociedade que sufoca desejos.
Amor proibido move a história de Frankenstein de Guillermo del Toro
A grande virada de Frankenstein de Guillermo del Toro aparece quando Elizabeth se encanta pela Criatura no porão do laboratório de Victor. O elo, selado sem palavras, contrasta com o relacionamento morno entre ela e William, irmão de Victor. Esse triângulo implode quando Victor, em surto de ciúme, acredita ter perdido o controle sobre sua criação.
O romance relâmpago termina em tragédia: Victor confunde-se no escuro, dispara acidentalmente e fere Elizabeth. Ela morre nos braços do monstro, lamentando a brevidade da vida. O golpe final recai sobre a própria Criatura, interpretada por Jacob Elordi, que entende ser imortal e jamais reencontrará a mulher que amou por apenas um dia.
Crítica à moralidade vitoriana
Del Toro usa esse romance impossível para denunciar a rigidez social do período. A jovem, limitada por expectativas de “boa esposa”, encontra liberdade apenas na figura marginal do monstro. O filme reforça que paixões femininas fora do padrão são punidas — ainda que a punição parta de homens que se julgam civilizados.
Nosferatu de Robert Eggers ecoa o mesmo desejo e castigo
Em Nosferatu, Ellen também se vê presa entre dois homens: o marido Thomas Hutter, vivido por Nicholas Hoult, e o ameaçador Conde Orlok. Enquanto a sociedade trata o amor como propriedade masculina, ela nutre uma atração inevitável pelo vampiro. O interesse não é correspondido em termos humanos, mas move Orlok a atravessar o oceano atrás dela.
Ellen reconhece o perigo, mas não renega o fascínio. No ápice, sacrifica-se para deter o conde, tornando-se heroína e, ao mesmo tempo, consumindo o próprio desejo. A semelhança com Frankenstein de Guillermo del Toro está na conclusão: a mulher que ama o “monstro errado” paga com a vida, enquanto o sistema social permanece ileso.
Romance gótico em dose dupla
As duas produções transformam histórias de terror em romances trágicos, onde erotismo e morte caminham lado a lado. Ao inserir forte subtexto sexual, Del Toro e Eggers modernizam tramas ambientadas em séculos passados e questionam o controle sobre o corpo e os afetos femininos.
Heróis clássicos se revelam vilões imperfeitos
Outro ponto de contato é a maneira como ambos os filmes desmontam o arquétipo do galã heroico. Oscar Isaac, carismático e elegante, dá vida a Victor Frankenstein, mas o cientista descamba para a obstinação e o ego ferido. O cientista agride, mente e mata para tentar manter seu domínio — inclusive sobre os sentimentos de Elizabeth.
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Já Thomas Hutter, de Hoult, inicialmente parece inofensivo. Porém, sua covardia e incapacidade de proteger Ellen o transformam em peça passiva, quase cúmplice da tragédia. Em contraste, os monstros — a Criatura e Orlok — demonstram sentimentos genuínos, subvertendo a lógica de que a aparência define humanidade.
Fragilidade masculina em pauta
Tanto Del Toro quanto Eggers expõem o masculino frágil: homens que não lidam com a rejeição, recorrem à violência ou à fuga e precipitam o desastre. Assim, quem deveria ser o “herói salvador” acaba figurando como antagonista da própria história.
Conexões que fortalecem o terror contemporâneo
Embora compartilhem estética gótica e violência incisiva, Frankenstein de Guillermo del Toro e Nosferatu abordam monstros distintos. Enquanto a obra de 2025 humaniza sua Criatura ao máximo, a produção de 2024 reforça o caráter bestial do vampiro. Mesmo assim, ambas convergem ao mostrar que amor e desejo sobrevivem às fronteiras do natural e do sobrenatural.
Essa dualidade explica o interesse do público por releituras dos clássicos: o monstro passa a espelhar questões atuais, como o controle do corpo feminino e a masculinidade tóxica. No site 365 Filmes, a discussão sobre essas obras mostra como o terror segue reinventando velhos ícones para dialogar com temas urgentes.
Dados essenciais de Frankenstein
Lançamento: 17 de outubro de 2025
Duração: 149 minutos
Direção: Guillermo del Toro
Roteiro: Guillermo del Toro e Mary Shelley
Elenco principal: Oscar Isaac (Dr. Victor Frankenstein) e Jacob Elordi (Criatura)
Dados essenciais de Nosferatu
Lançamento: 2024
Direção: Robert Eggers
Elenco principal: Bill Skarsgård (Conde Orlok), Lily-Rose Depp (Ellen), Nicholas Hoult (Thomas Hutter)
Ambas as produções comprovam que, quando o “herói” falha, o monstro ganha espaço para revelar facetas humanas — e, por ironia, lembrar a todos que a verdadeira ameaça pode vir daqueles que se consideram civilizados.
