Uma série de assassinatos abala Mashhad, cidade sagrada do Irã, enquanto a imprensa local prefere o silêncio. É nesse clima de medo que a repórter Arezoo Rahimi desembarca para descobrir por que mulheres pobres continuam sendo estranguladas e abandonadas em áreas periféricas.

No centro da história de Holy Spider está um confronto direto entre jornalismo, religião e machismo institucionalizado. O longa de Ali Abbasi, indicado por seu país à temporada de prêmios, retrata como um criminoso comum se torna herói moral para parte da comunidade ao pregar “limpeza” nas ruas.

A investigação de Arezoo Rahimi vira alvo de resistência

Interpretada por Zar Amir Ebrahimi, Rahimi identifica rapidamente um padrão: corpos largados sempre da mesma forma, sempre de mulheres que, para o sistema, parecem não fazer falta. Na delegacia, pedidos de relatório viram piada e as vítimas são culpadas por estarem nas ruas à noite.

Para furar o bloqueio institucional, a jornalista decide reunir provas que obriguem as autoridades a agir. Recortes de jornais, horários de plantão nos motéis e registros de táxi viram peças de um quebra-cabeça que precisa ser concluído antes que o assassino ataque de novo.

Desconfiança dentro da redação

Mesmo entre colegas, a repórter enfrenta receio de retaliação. Sharifi, editor local, pesa cada nova informação, temendo censura estatal. Ainda assim, aceita colaborar para ampliar a repercussão do caso.

Saeed, o “limpador” que vira símbolo de devoção distorcida

Na outra ponta do roteiro, Mehdi Bajestani vive Saeed, homem aparentemente comum: trabalha, ora e volta para casa. À noite, porém, dirige pelas mesmas ruas onde Rahimi coleta pistas. O contraste entre a rotina familiar e a persona sombria reforça o suspense de Holy Spider.

Saeed acredita cumprir missão religiosa. Apoio sussurrado de vizinhos e líderes locais alimenta a convicção de que estrangular mulheres em situação de vulnerabilidade seria um “serviço à moral”. Quanto maior a complacência da cidade, maior a confiança do criminoso.

Rotina doméstica em tensão

No lar, ausências frequentes e dinheiro fácil levantam suspeitas. Ainda assim, a aparência de devoto garante proteção social, dificultando o trabalho policial e aprofundando o abismo entre fé e lei.

Estratégia arriscada leva jornalista ao limite

Com pistas escassas, Rahimi decide se infiltrar no território do assassino. Hospeda-se em hotéis baratos, negocia com motoristas e percorre becos mal iluminados. Cada passo aumenta o risco de se tornar próximo alvo.

Nessa fase, a fotografia adota fortes contrastes e luz reduzida. O desenho sonoro privilegia respirações e passos, ampliando a sensação de que a qualquer segundo a violência pode explodir.

Armada para capturar o serial killer

A repórter conclui que precisa de contato direto para incriminar Saeed. Com apoio mínimo da redação, monta armadilha que a coloca cara a cara com o alvo. O filme alonga silêncios, travando a câmera em enquadramentos que praticamente eliminam rotas de fuga.

Da prisão ao tribunal: impunidade moral em pauta

Quando a captura finalmente acontece, o centro da narrativa migra para o julgamento. No tribunal, discursos religiosos competem com a lógica legal. Enquanto uns clamam por perdão, outros veem em Saeed exemplo de punição inevitável.

A hesitação das autoridades reforça o ponto crucial de Holy Spider: se a vida das vítimas é relativizada, o processo inteiro se contamina. A imprensa calcula audiência, políticos avaliam impacto e a família do acusado tenta salvar a própria imagem.

Ecos sociais da sentença

O desfecho jurídico não encerra o debate. Crianças repetem frases do pai assassino, vizinhos questionam a força da pena e manchetes já procuram o próximo escândalo. O longa mostra que, sem mudança estrutural, novas violências podem florescer.

Aspectos técnicos reforçam a tensão de Holy Spider

Ali Abbasi utiliza trilha mínima para dar lugar a sons ambientais, destacando cada batida de porta e cada sussurro na noite. Planos fechados dentro de carros sugerem vigilância constante, enquanto corredores escuros espelham a fragilidade da lei naquele território.

A atuação contida de Zar Amir Ebrahimi evita heroísmo fácil. Suas anotações, entrevistas e confrontos diretos sustentam a urgência do caso. Já Mehdi Bajestani constrói um antagonista metódico, cuja calma durante os crimes amplia o frio na barriga do espectador.

Disponibilidade e recepção

Lançado em 2022, o longa-metragem iraniano chega agora ao catálogo da Netflix com classificação 9/10 em portais especializados. Misturando crime, drama e suspense, Holy Spider dura pouco mais de duas horas e mantém ritmo crescente do primeiro ao último ato.

Para quem acompanha novidades pelo 365 Filmes, vale registrar: a produção coleciona elogios em festivais por expor, sem filtros, a conivência entre fanatismo e violência de gênero. O streaming libera o título em áudio original e legendas em português.

Holy Spider encerra sua narrativa deixando Mashhad diante da mesma pergunta que abriu a investigação: quem define o valor de uma vida quando a tradição silencia as autoridades? A repórter Rahimi cumpre o dever de expor o problema, mas o filme lembra que a resposta continua em disputa nas ruas, redações e tribunais.

Sou formada em Marketing Digital e criadora de conteúdo para web, com especialização no nicho de entretenimento. Trabalho desde 2021 combinando estratégias de marketing com a criação de conteúdo criativo. Minha fluência em inglês me permite acompanhar e desenvolver materiais baseados em tendências globais do setor.

Leave A Reply