Stanley Kubrick se despediu do cinema em 1999 com De Olhos Bem Fechados, thriller que examina desejo, poder e culpa em uma Nova York noturna. Agora, o longa está disponível no Prime Video e retoma o debate sobre hipocrisia nas relações afetivas.
O 365 Filmes relembra os principais detalhes da produção, que reúne Tom Cruise, Nicole Kidman e um roteiro inspirado em Traumnovelle, de Arthur Schnitzler. A seguir, veja como Kubrick constrói um mosaico de sedução, medo e mistério.
O retorno de De Olhos Bem Fechados ao streaming
Lançado em 1999, o filme chega ao catálogo do Prime Video em 2024, oferecendo ao público a chance de revisitar a última criação de Kubrick. A disponibilização reacende o interesse em sua estética meticulosa e no enredo permeado por simbolismo.
Com classificação mistério/thriller, a obra mantém nota 10/10 entre críticos citados pelo material original. A nova janela de exibição facilita o acesso a uma história que, mesmo duas décadas depois, segue provocando discussões sobre moral e desejo.
Trama: desejo, hipocrisia e busca incessante
Bill Harford, médico vivido por Tom Cruise, vê sua rotina ruir após a esposa, Alice Kidman, confessar fantasias que abalam o casamento. Atordoado, ele passa duas noites circulando por uma Nova York iluminada, mas repleta de segredos.
A jornada inclui o reencontro com um colega pianista, a entrada em uma seita dionisíaca e tentativas frustradas de envolvimento sexual. Cada passo evidencia a fragilidade dos apetites carnais e expõe a hipocrisia que cerca o aparente puritanismo de Bill.
O ponto de partida no baile de Victor Ziegler
Tudo começa em uma recepção luxuosa na mansão do milionário Victor Ziegler, interpretado por Sydney Pollack. Ali, Alice flerta com um convidado húngaro que cita poemas de Ovídio, enquanto Bill é cortejado por duas jovens.
O clima de celebração contrasta com o colapso interno do casal, gatilho para a odisseia noturna que sustenta o enredo.
Produção cercada de cuidados e longas filmagens
Kubrick dividiu a autoria do roteiro com Frederic Raphael, adaptando Traumnovelle (1926), de Arthur Schnitzler. A trilha de Jocelyn Pook imprime ritmo hipnótico que dissolve fronteiras entre sonho e vigília.
Imagem: Imagem: Divulgação
Para atender às exigências de censura, cenas de nudez e sexo receberam tratamento digital que encobriu parte das genitálias. A decisão reforça a dualidade entre exposição e recato presente na própria narrativa.
Universo de prisões metafóricas
No filme, prazer e repressão se entrelaçam em espaços fechados: quartos, mansões e salões. Cada ambiente funciona como uma cela psicológica, ampliando a tensão que acompanha Bill até o último minuto.
Elenco e personagens centrais
Tom Cruise adota atuação contida e quase cartesiana, realçando o perfil racional e, ao mesmo tempo, vulnerável do protagonista. Nicole Kidman surge como contraponto emotivo, evocando ecos de Madame Bovary com atitudes dissimuladas.
Completam o núcleo principal Sydney Pollack, no papel de Ziegler, e o pianista que reconhece Bill durante o baile, figura decisiva para introduzir o universo secreto da seita. Juntos, eles promovem um estudo sobre aparência versus essência.
Por que o longa se mantém atual
A anatomia do desejo proposta por Kubrick continua relevante ao expor como poder e culpa moldam escolhas íntimas. A fusão de elementos oníricos, trilha marcante e fotografia precisa sustenta a permanência do título no debate cultural.
Ao revisitar De Olhos Bem Fechados no streaming, o público encontra um retrato cru da condição humana, pintado por um diretor que examinou as zonas sombrias da alma até o final de sua trajetória artística.
