Um mecânico musculoso que se recusa a matar, um chefão do crime “intocável” e um policial apático formam o trio central de The Wrecker, lançamento que tenta reviver o cinema de pancadaria dos anos 80. Dirigido pelo ex-dublê Art Camacho, o filme reúne Tyrese Gibson, Harvey Keitel, Danny Trejo e Mena Suvari em 90 minutos recheados de testosterona e praticamente nenhum sopro de originalidade.

Em vez de celebrar os exageros à moda antiga de forma consciente, a produção leva a sério cada frase de efeito, cada músculo brilhando em excesso de bronzeador e cada explosão gratuita. O resultado, segundo quem já conferiu a sessão, é um espetáculo de fórmulas gastas que chega a confundir o espectador: seria sátira ou apenas um amontoado de velhos truques mal costurados?

Trama gira em torno de vingança e códigos de honra

The Wrecker apresenta Tony Foster (interpretado pelo também roteirista Niko Foster), um mecânico fisiculturista dispensado do Exército por “se recusar a atirar no inimigo”. Logo de início, um flashback mostra a trágica infância do protagonista: o amigo encontra uma arma, garante que ela está descarregada e acaba se ferindo — cena editada de forma tão confusa que beira o cômico.

Na vida adulta, Tony encara outro drama familiar. Seu irmão Bobby, viciado em cocaína e vivido por Chad Michael Collins, rouba um Lamborghini amarelo de US$ 280 mil pertencente a Dante (Harvey Keitel), chefão do crime que domina as manchetes — escritas, curiosamente, por um genérico “Staff Writer”. Para salvar Bobby, Tony aceita trabalhar como capanga de Dante até “quitar” a dívida.

Harvey Keitel & Tyrese Gibson aparecem em piloto automático

Harvey Keitel surge como Dante, um criminoso tão notório que sua foto estampa jornais, mas que segue solto graças a uma aura de “intocável”. A atuação, contudo, não passa de falas decoradas, como se o veterano lesse cartões fora de quadro. Já Tyrese Gibson interpreta o detetive Boswell, encarregado de caçar tanto o bandido quanto o herói relutante. O personagem é tão sisudo que chega a pedir café “preto sem creme” — definição redundante que revela o tom nada inspirado do roteiro.

Enquanto isso, Danny Trejo vive o pai de Tony, sábio no trato com chaves de roda e, surpreendentemente, em habilidades de hacker. Mena Suvari, por sua vez, interpreta Cheryl, colega mecânica que entrega a Tony a chave do próprio apartamento numa tentativa de romance que nunca decola.

Ação exagerada sem qualquer senso de novidade

O diretor Art Camacho, vindo do universo dos dublês, orquestra lutas corporais razoavelmente competentes. Tony empunha uma chave inglesa gigante — descrita como “fálica” por quem assistiu — para distribuir golpes em capangas variados. Contudo, fora das sequências de pancadaria, o filme se arrasta. Nem mesmo a construção do veículo-tanque apelidado de “The Wrecker”, montado pelos colegas de oficina, consegue empolgar.

Entre tiros disparados contra a casa do protagonista (com a ordem absurda de não ferir ninguém da família) e discursos sobre “família” dignos de franquias automobilísticas famosas, o roteiro resgata cada estereótipo possível, mas nunca com a leveza de uma autoparódia. A trilha sonora, acompanhada por cenas com mulheres sem fala em trajes mínimos, reforça a sensação de déjà-vu constante.

Falta de autoconsciência torna a experiência cansativa

Se The Wrecker assumisse o tom de galhofa, talvez encontrasse público entre fãs de filmes “tão ruins que são bons”. No entanto, a produção parece acreditar no próprio drama, tornando cada reviravolta melodramática em algo involuntariamente engraçado. A morte de personagens próximos a Tony, por exemplo, provoca algumas lágrimas rápidas do herói antes de mais um mergulho em vingança, sugerindo que o sentimento dura pouco quando há cabeças para esmurrar.

A ausência de humor intencional pesa ainda mais por causa da voz rouca de Niko Foster, comparada nos bastidores a discursos de figuras políticas dos anos 60. O monótono tom do protagonista domina quase todas as cenas e contribui para uma narrativa que se sente maior do que realmente é.

Aspectos técnicos deixam a desejar

A edição salta de cena em cena sem polimento, o que prejudica a compreensão até de momentos simples. Em certas passagens, cortes abruptos transformam flashbacks dramáticos em sequências involuntariamente cômicas. Além disso, detalhes como manchetes de jornal com termos genéricos (“Crime Lord” em vez do nome do vilão) reforçam a impressão de falta de cuidado.

Mesmo as lutas, ponto alto para muitos fãs de ação, carecem de criatividade. Golpes repetitivos e coreografias previsíveis diminuem o impacto visual. O carro blindado central à trama, embora promissor, aparece pouco e não recebe a atenção esperada para um objeto que dá nome ao filme.

Para quem The Wrecker pode funcionar

Apesar de todos os tropeços, o longa pode agradar espectadores em busca de pancadaria simples e nostálgica, dispostos a não ligar para roteiro ou atuações inspiradas. Quem nutre curiosidade pode conferir trechos no trailer oficial disponível no YouTube.

No entanto, para o público que espera algo mais elaborado ou autocrítico, The Wrecker dificilmente passará de uma sessão frustrante. Aqui no 365 Filmes, a impressão geral é de que a produção desperdiça elenco experiente e uma premissa que, se fosse tratada com humor, poderia ter rendido melhor divertimento.

Ficha técnica resumida

  • Título original: The Wrecker
  • Direção: Art Camacho
  • Roteiro: Niko Foster
  • Elenco principal: Niko Foster (Tony), Tyrese Gibson (Detetive Boswell), Harvey Keitel (Dante), Danny Trejo (Pai de Tony), Mena Suvari (Cheryl), Chad Michael Collins (Bobby)
  • Duração: 90 minutos
  • Gênero: Ação / Policial
  • País de origem: Estados Unidos

The Wrecker chegou aos cinemas internacionais recentemente e, até o momento, não há previsão oficial de estreia em circuitos brasileiros ou plataformas de streaming locais.

Sou redator especializado em conteúdo de entretenimento para o mercado digital. Desde 2021, produzo análises, dicas e críticas sobre o mundo do entretenimento, com experiência como colunista em sites de referência.

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