Na minissérie de true crime O Monstro de Florença, a Netflix reconstrói um dos casos mais assustadores da Itália, mas entrega apenas parte do quebra-cabeça. O programa foca em alguns suspeitos, encerra a narrativa em certo ponto e deixa lacunas que mudam a compreensão do público.
Ao rever os autos e ouvir investigadores, percebe-se que as mortes atribuídas ao “monstro” podem envolver mais pessoas, teorias conspiratórias e até uma rede de proteção institucional. Conheça abaixo os fatos que ficaram fora do streaming e por que eles seguem sem solução definitiva.
O que a série mostra ao assinante
A produção, dirigida por Stefano Sollima, cobre oficialmente sete duplos homicídios ocorridos entre 1968 e 1985 na zona rural de Florença. O padrão se repete: casais surpreendidos dentro de carros, o homem alvejado primeiro e a mulher, depois, sofrendo mutilações. A arma que liga todos os crimes é uma Beretta calibre .22.
Na tela, a principal linha de investigação gira em torno da chamada pista sarda. Nela, aparecem os irmãos Vinci e outros nomes próximos, envolvidos em escândalos sexuais que remontam ao primeiro caso, o assassinato de Barbara Locci e Antonio Lo Bianco, em 1968. Esse foco rende tensão dramática, mas corta a visão ampla do inquérito.
Pistas que ficaram fora da tela
Documentos oficiais sugerem que o número de vítimas pode chegar a 24. Parte dos investigadores acredita que existiram oito casais mortos, outros defendem total ainda maior, acrescentando desaparecimentos não conectados pela polícia na época.
Além disso, o ex-chefe de investigações Michele Giuttari sustenta que a pista sarda serviu de cortina de fumaça. Ele aponta para um possível mandante: o médico gonadologista e maçom Francesco Narducci, morto em circunstâncias misteriosas em 1985. A hipótese indica participação de mais de um homicida, possivelmente coordenada por pessoas influentes.
A polêmica da Beretta .22
A balística sempre retornou ao mesmo revólver. Porém, relatórios internos denunciam que a arma teria circulado entre diferentes mãos. Há registros de que ela desapareceu do depósito policial e reapareceu em propriedades ligadas a grupos de caça e, depois, em coleções particulares — sem explicação oficial para os deslocamentos.
Investigações contestadas e supostos encobrimentos
Processos abertos nos anos 1990 e 2000 mostram promotores investigando colegas, juízes contestando decisões e testemunhas sendo presas ou sumindo. O resultado foi uma série de idas e vindas nos tribunais, sem condenação definitiva para parte dos suspeitos.
Parentes de vítimas relatam que pastas inteiras desapareceram. Já repórteres que tentaram acompanhar o caso afirmam ter sido intimidados. Alguns chegaram a ser detidos por “obstrução de justiça” após questionarem documentos públicos. A minissérie toca no tema, mas não aprofunda o impacto dessas falhas sobre a verdade final.
Envolvimento de elites e sociedades secretas
Teorias presentes nos autos mencionam câmaras secretas, rituais e troca de órgãos como troféus. Na década de 1980, rumores ligaram o caso a festas privadas de clientes endinheirados, onde supostamente partes mutiladas eram exibidas. Nenhuma linha do roteiro da Netflix detalha essas denúncias, embora investigadores as citem em entrevistas registradas.
Imagem: Divulgação
Por que o mistério continua vivo
Mesmo que a justiça italiana tenha encerrado o inquérito principal, vários promotores ainda defendem que o “monstro” foi uma entidade coletiva, sustentada por interesse político e econômico. Sem consenso sobre autoria, o crime continua alimentando livros, podcasts e novas séries.
Para quem assiste à produção e busca respostas, revisar os documentos disponíveis se torna quase necessário. No portal 365 Filmes, é comum leitores pedirem guias de leitura e listas de reportagens para entender todas as camadas desse enigma.
Relembre a cronologia dos crimes
• 1968 – Barbara Locci e Antonio Lo Bianco morrem a tiros; filho de Locci sobrevive no banco traseiro.
• 1974 – Stefania Pettini e Pasquale Gentilcore são assassinados em um carro nos arredores de Florença.
• 1981 – Carmela De Nuccio e Giovanni Foggi repetem o padrão, iniciando a série de seis casais mortos nos anos 80.
• 1985 – Última ocorrência oficial: Nadine Mauriot e Jean-Michel Kraveichvili, turistas franceses, tornam-se as últimas vítimas ligadas à Beretta .22.
O ponto cego da adaptação
A decisão de fechar a narrativa na pista sarda garante ritmo televisivo, porém deixa de fora o debate sobre corrupção, ritos secretos e manipulação de provas. Assim, o espectador tem a impressão de que um serial killer agiu sozinho e escapou. Já o histórico do caso sugere rede maior, em que a violência se confunde com poder.
Sem essas peças, qualquer teoria permanece incompleta. E é justamente aí que mora o verdadeiro “segredo real” de O Monstro de Florença: a possibilidade de múltiplos autores operando sob proteção invisível, algo que a série apenas insinua.
O que esperar de futuras produções
Caso novos documentos venham a público, roteiristas poderão abordar as ligações com sociedades secretas, a morte suspeita de Narducci e a trajetória obscura da Beretta .22. Enquanto isso, o público segue dividido entre aceitar a versão televisiva ou mergulhar em relatórios, entrevistas e decisões judiciais disponíveis em arquivos italianos.
Interessado em desbravar mais detalhes? Acompanhe as atualizações, porque todo novo dado pode mudar o rumo de um processo que, para muitos, jamais deveria ter sido arquivado.
