É Natal, mas a esperança parece ter tirado férias para Elsa. A protagonista de Querido Mundo atravessa ruas cariocas sem cor, procurando um canto onde possa, enfim, recomeçar. A câmera em preto e branco revela cada sombra e, ao mesmo tempo, ilumina as feridas que ela carrega.

Dirigido por Miguel Falabella, o longa fez sua estreia nacional em Gramado e chegou ao Festival do Rio 2025 com sessões disputadas. Entre figurinos estampados, trilha marcante e performances afiadas, Querido Mundo convida o público a enxergar beleza na poeira de um prédio em ruínas.

Trama natalina coloca luz sobre relacionamentos abusivos

Às vésperas do Natal, Elsa (Malu Galli) descobre que o marido, Gilberto (Marcello Novaes), trocou o sítio da família por um apartamento na capital fluminense. Ao chegarem ao endereço, o casal se depara com uma construção abandonada, sem portas, janelas ou qualquer sinal de conforto. Desabrigada, Elsa conhece Oswaldo (Eduardo Moscovis), vizinho temporário que vive no cômodo ao lado e se torna seu inesperado porto seguro.

O roteiro, escrito pelo próprio Falabella em parceria com Maria Carmem Barbosa, adapta a peça homônima para o cinema sem perder as raízes teatrais. Diálogos afiados e cenários intimistas preservam o ritmo de palco, enquanto a lente amplia o escopo emocional da história.

Fotografia em preto e branco é destaque técnico

Responsável pelas imagens de Veneza, Gustavo Hadba volta a trabalhar com Falabella e assina uma fotografia que rouba a cena. Ao optar pelo preto e branco, o diretor de fotografia cria contrastes profundos, transformando a decadência do edifício em um cenário quase onírico. O uso preciso de luz e sombra valoriza as expressões dos atores e sublinha o clima agridoce do filme.

O figurino de Bia Salgado adiciona textura ao quadro monocromático. Estampas e cortes ganham vida mesmo sem cor, oferecendo movimento às cenas e reforçando a personalidade de cada personagem. Já a direção de arte de João Bueno, em colaboração com Tulé Peak, ergue um microcosmo desfeito que espelha o estado emocional dos protagonistas.

Trilha sonora embala emoções à flor da pele

Composições originais de Plínio Profeta conduzem o espectador pelas angústias de Elsa. A mistura de acordes melancólicos e notas mais suaves acompanha a curva dramática da protagonista, reforçando a ideia de que, mesmo em ruínas, sempre há espaço para um sopro de esperança.

A cena da quermesse, por exemplo, combina figurinos vistosos, fotografia contrastada e trilha expressiva para ilustrar a busca de Elsa por um instante de alegria. O conjunto faz de Querido Mundo uma experiência sensorial coesa.

Malu Galli lidera elenco afinado

Vencedora do Kikito de Melhor Atriz em Gramado, Malu Galli entrega uma Elsa repleta de nuance. Entre fragilidade e força, a atriz conduz o público por todas as camadas da personagem, tornando palpável cada respiração de alívio ou medo.

Eduardo Moscovis, vivido aqui como o elegante Oswaldo, oferece contraponto delicado ao abuso verbal e psicológico de Gilberto, interpretado por Marcello Novaes. Danielle Winits, Maria Eduarda de Carvalho, Pedro Novaes, Alessandra Verney, Cintia Rosa e Magno Bandarz completam o elenco, criando uma rede de apoios e conflitos que sustenta a narrativa.

Querido Mundo encanta no Festival do Rio com visual em preto e branco e atuação poderosa de Malu Galli - Imagem do artigo original

Imagem: Imagem: Divulgação

Direção equilibra fábula e realidade

Falabella, com co-direção de Hsu Chien, constrói uma fábula sobre pessoas à beira do colapso que, ainda assim, escolhem acreditar num amanhã melhor. As referências visuais ao cinema clássico, percebidas em enquadramentos e movimentos de câmera, dialogam com a atmosfera retrô dos créditos de abertura.

Esse equilíbrio entre fantasia e cotidiano dá fôlego ao filme, permitindo que questões pesadas – abuso, desalento, solidão – sejam abordadas sem perder leveza. O resultado é uma obra que conversa tanto com cinéfilos quanto com o público em busca de emoções genuínas.

Recepção calorosa no Festival do Rio 2025

Após a estreia em Gramado, Querido Mundo chegou ao Festival do Rio lotando salas e gerando burburinho entre críticos e espectadores. A exibição reforçou a força do cinema nacional contemporâneo, impulsionando debates sobre fotografia, adaptação teatral e protagonismo feminino.

No tapete vermelho, Falabella elogiou a dedicação do elenco e destacou a importância de contar histórias de renascimento justamente no fim do ano, quando “todo mundo faz balanço da vida e procura deixar bagagens pesadas para trás”.

Querido Mundo consolida parceria criativa de Falabella e Hadba

Depois de Veneza, diretor e fotógrafo confirmam a boa química em mais uma produção que mescla sentimentos intensos e estética marcante. A aposta no preto e branco, arriscada para um mercado cada vez mais colorido, prova que há espaço para escolhas visuais arrojadas no circuito comercial.

Com mais de 600 palavras, este artigo do Resumo de Novelas sublinha os pontos-chave do longa: fotografia refinada, elenco em sintonia e roteiro que, apesar da dor, respira esperança. Querido Mundo é, no fim das contas, um convite a buscar cor mesmo quando tudo parece cinza.

Principais créditos

Direção: Miguel Falabella

Co-direção: Hsu Chien

Roteiro: Miguel Falabella e Maria Carmem Barbosa

Elenco: Malu Galli, Eduardo Moscovis, Marcello Novaes, Danielle Winits, Maria Eduarda de Carvalho, Pedro Novaes, Alessandra Verney, Cintia Rosa, Magno Bandarz e convidados

Fotografia: Gustavo Hadba

Figurino: Bia Salgado

Direção de arte: João Bueno e Tulé Peak

Trilha sonora: Plínio Profeta

Querido Mundo ainda não tem data de estreia comercial confirmada, mas, após a recepção entusiasmada no Festival do Rio 2025, a expectativa é que chegue aos cinemas brasileiros em breve, mantendo viva a chama da esperança que brilha no olhar de Elsa.

Leave A Reply