Barack Obama já foi tema de inúmeros livros e documentários, mas o filme Barry, disponível na Netflix, foca num recorte pouco visitado: o período em que o futuro presidente ainda buscava entender quem era. A produção de 2016, dirigida por Vikram Gandhi, abandona o palco da política para acompanhar o jovem universitário que, recém-chegado a Nova York, tenta conciliar origens diversas com um ambiente social fragmentado.
Com tom intimista, o longa apresenta um “drama histórico inspirador na Netflix” que evidencia conflitos raciais, dilemas de pertencimento e relações pessoais que ajudaram a moldar o pensamento de Obama. O 365 Filmes revisita todos os detalhes dessa fase pré-Casa Branca, evitando análises extras e mantendo o foco nos fatos mostrados em tela.
Quem é quem no longa sobre a juventude de Obama
No centro da trama está Devon Terrell, responsável por interpretar Barry – como Obama era chamado pelos colegas nos anos 1980. Sem recorrer a imitações, o ator constrói um protagonista retraído, preso entre dois mundos: o acadêmico, representado pela Columbia University, e a comunidade negra dos bairros periféricos de Manhattan.
Outro nome de peso é Ashley Judd, que surge em momentos pontuais como Ann Dunham, mãe de Obama. Sua participação reforça as limitações de apoio familiar diante de um debate racial que ultrapassa as paredes de casa. O elenco inclui ainda Ellar Coltrane, Jason Mitchell e Anya Taylor-Joy, cada qual simbolizando pressões distintas sobre o jovem estudante.
Contexto histórico: Nova York no início da década de 1980
O filme situa o espectador numa cidade marcada por desigualdade, aumento da violência urbana e disputa acirrada entre movimentos políticos que tentavam entender o pós-direitos civis. Nesse cenário, Obama desembarca em 1981 para cursar ciência política, mas logo percebe que a cor da pele precede qualquer argumentação acadêmica.
A produção usa locações reais, como bibliotecas, prédios universitários e apartamentos apertados, para reforçar a tensão diária vivida pelo personagem. Ruas esfumaçadas, muros pichados e discussões acaloradas nos corredores ilustram uma Nova York que oferecia oportunidades e, simultaneamente, exclusão.
O conflito central: pertencimento versus identidade
Em Barry, o “drama histórico inspirador na Netflix” ganha força quando o roteiro expõe três frentes de conflito. Primeiro, a relação com uma namorada branca, cuja família incorpora um liberalismo cordial que parece aceitar o jovem apenas quando ele suaviza suas raízes. Segundo, as cobranças de colegas negros, que esperam dele uma postura mais combativa. E terceiro, a ausência do pai queniano, lembrada em cenas breves que sublinham a fissura cultural ainda aberta.
Essa tríplice pressão faz o personagem se questionar: é possível formar uma identidade coesa vivendo entre discursos tão antagônicos? O longa evita respostas fáceis, mantendo o espectador dentro da angústia que precede qualquer definição de futuro.
Narrativa focada na alienação, não no heroísmo
Ao contrário de outras biografias que buscam a gênese de um líder político, Barry opta por mostrar o vazio anterior ao engajamento público. A trajetória acadêmica aparece, mas sem destaque para notas, prêmios ou discursos. O que se vê é um estudante que vaga entre aulas, festas e bibliotecas, tentando descobrir qual espaço realmente lhe pertence.
Imagem: Imagem: Divulgação
Em alguns momentos, a direção de Vikram Gandhi mantém distância do ponto de vista interno de Obama, limitando o acesso do público aos pensamentos do personagem. Essa escolha cria cenas contemplativas que, embora não avancem a trama, reforçam a sensação de deslocamento.
Atuação e estilo visual sustentam o filme
Mesmo com a narrativa fragmentada, Devon Terrell oferece performance sólida. Seu Barry raramente verbaliza conflitos; ele revela inseguranças no jeito de segurar um cigarro, no olhar lançado aos grafites do metrô ou no silêncio durante debates sobre racismo. Cada pausa sugere a luta interna que alimenta o drama histórico.
A fotografia aposta em tons acinzentados para retratar a cidade, contrapondo-se ao calor de alguns encontros familiares. Já a trilha sonora mescla jazz e soul, lembrando que a cultura negra sempre esteve presente na formação do protagonista, ainda que ele demore a assumir esse legado publicamente.
Pontos fortes e limitações reconhecidas
Barry não entrega a trajetória política completa, e isso é assumido desde o primeiro ato. Quem procura discursos emblemáticos ou os bastidores da primeira campanha de Obama pode se frustrar. Em compensação, o longa oferece recorte honesto sobre o momento em que o futuro presidente entende que a própria existência é um ato político.
Com 8/10 na avaliação de críticos, o drama histórico inspirador na Netflix conquista pela intimidade, pelo retrato sensível de um jovem ainda em construção e pela reflexão sobre identidade racial em solo norte-americano.
Serviço
Título original: Barry
Direção: Vikram Gandhi
Ano de lançamento: 2016
Gênero: Biografia/Drama
Onde assistir: Netflix (streaming)
Se você busca um olhar diferente sobre o início de Barack Obama, sem heróis prontos ou discursos inflamados, Barry pode ser a escolha certa na sua próxima maratona de streaming.
