Fotografia fria, personagens à beira do colapso e uma trama que não oferece respiro: A Garota da Agulha já nasceu com fama de provocar pesadelos. O longa sueco, apontado pela Suécia para concorrer ao Oscar 2025 de filme internacional, chegou ao catálogo da Mubi e vem chamando atenção pela intensidade.

Dirigido por Magnus von Horn, o título de 2024 mistura drama histórico e horror psicológico, ambientando sua história no pós-Primeira Guerra Mundial. Quem aperta o play encontra pouco conforto; o filme foi pensado para incomodar em cada detalhe.

Enredo gira em torno de luto, miséria e escolhas extremas

A protagonista é Karoline (Vic Carmen Sonne), costureira que aguarda notícias do marido enviado ao front. Sem resposta às cartas e já endividada, ela é despejada e busca amparo junto ao patrão Jorgen (Joachim Fjelstrup), jovem empresário que promete ajuda — promessa quebrada logo depois de seduzi-la e engravidá-la.

Quando Jorgen nega casamento e a demite, Karoline se vê grávida, sem renda e sem teto. A tentativa de aborto em um banho público introduz o objeto que batiza o filme: a agulha. Ali, ela conhece Dagmar (Trine Dyrholm), mulher disposta a encaminhar bebês para famílias ricas por uma taxa que Karoline não consegue pagar.

Retorno do marido intensifica o horror psicológico

O roteiro complica ainda mais quando o marido, dado como morto, reaparece desfigurado pela guerra. Traumatizado, ele divide o pequeno quarto alugado por Karoline, transformando o ambiente em um barril de pólvora emocional.

Com a chegada do bebê e sem dinheiro, a protagonista aceita trabalhar e morar com Dagmar, que mantém um orfanato clandestino atrás da fachada de doceria. O acordo envolve amamentar crianças de desconhecidos em troca de abrigo — e a entrada num ciclo sombrio de dependência química e mental.

Fotografia em preto e branco acentua o clima de sufocamento

Assinado pelo polonês Michał Dymek, o visual em preto e branco explora ruas enlameadas, lençóis manchados e cabelos desgrenhados. Nada brilha; tudo cheira a ferrugem e mofo. Essa opção estética lembra o cinema expressionista e torna cada cena desconfortável.

O contraste forte evita a romantização do período histórico e sublinha a precariedade: interiores sujos, água estagnada, poeira por toda parte. A atmosfera, portanto, reforça o estado emocional dos personagens — todos parecem trincados, prontos a desmoronar.

Trilha quase ausente aumenta a sensação de vazio

Magnus von Horn economiza na trilha sonora e nos efeitos. Silêncios longos substituem música, deixando o espectador preso aos ruídos de passos, portas rangendo e respirações ofegantes. O resultado é um distanciamento que potencializa o choque quando algo acontece.

A montagem também prioriza a contenção: cortes são precisos e evitam explosões melodramáticas. Essa escolha mantém a tensão constante, como se o filme inteiro prendesse a respiração.

A dependência entre Karoline e Dagmar move o terceiro ato

Sem revelar o ponto de virada, a relação entre as duas mulheres revela um sistema de exploração que toma corpo diante dos nossos olhos. A suposta ajuda de Dagmar transforma-se em domínio absoluto sobre corpo e mente da costureira, que se vê presa num mecanismo de tráfico humano.

Olhares, sorrisos falsos e gestos contidos sugerem segundas intenções a todo momento. A dualidade das personagens mantém o público em alerta: ninguém é confiável, e o perigo pode surgir de onde menos se espera.

Indicação ao Oscar consolida o alcance internacional do longa

A Garota da Agulha representará a Suécia na corrida pela estatueta de Melhor Filme Internacional no Oscar 2025. A escolha confirma o impacto da obra e aumenta sua visibilidade fora da Europa, impulsionada agora pela distribuição da Mubi.

Para o público brasileiro que acompanha os lançamentos por meio do 365 Filmes, essa é uma chance de conferir uma produção que une temática histórica, crítica social e elementos de horror em um pacote incomum.

FICHA TÉCNICA

Título original

A Garota da Agulha (The Girl with the Needle)

Direção

Magnus von Horn

Elenco principal

Vic Carmen Sonne, Trine Dyrholm, Joachim Fjelstrup

Gênero

Crime, drama, histórico

Duração e ano

2024 — 1h50min (aprox.)

Onde assistir

Disponível no streaming Mubi.

A Garota da Agulha não poupa o público: aborda maternidade, pós-guerra e miséria humana com realismo brutal, oferecendo um retrato sombrio que continua ecoando bem depois dos créditos.

Sou formada em Marketing Digital e criadora de conteúdo para web, com especialização no nicho de entretenimento. Trabalho desde 2021 combinando estratégias de marketing com a criação de conteúdo criativo. Minha fluência em inglês me permite acompanhar e desenvolver materiais baseados em tendências globais do setor.

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