Washington, 1969. Funcionários de um museu encontram um frasco empoeirado com um cérebro humano etiquetado como o do assassino do presidente James Garfield.

Esse achado bizarro serve de gatilho para “Como um Relâmpago”, nova aposta da Netflix que viaja ao fim do século XIX para recontar uma tragédia quase apagada da memória americana.

Da descoberta macabra ao retorno a 1879

O enredo abre com a cena do cérebro preservado, depois retrocede noventa anos para apresentar dois homens em rota de colisão. De um lado, James A. Garfield, então congressista por Ohio, idealista, defensor de reformas e crítico da corrupção que corroía a máquina pública. Do outro, Charles Guiteau, charlatão sedento por fama, sobrevivendo de pequenos golpes e fantasias grandiosas sobre seu papel na política.

Nesse bloco inicial, a minissérie “Como um Relâmpago” intercala as trajetórias: Garfield sobe no Partido Republicano enquanto Guiteau afunda em delírios. A edição deixa claro que a obsessão de um será o infortúnio do outro.

Convenção republicana de 1880: a candidatura inesperada

No segundo episódio, o espectador acompanha a convenção em Chicago. Garfield viaja apenas para discursar em favor de outro candidato, mas seu apelo eloquente conquista a plateia. À medida que as votações se arrastam sem consenso, surge a solução improvável: ele próprio.

Contra nomes de peso, como o ex-presidente Ulysses Grant, Garfield acaba escolhido e, meses depois, eleito 20º presidente dos Estados Unidos. Promete romper com o apadrinhamento político e instaurar meritocracia no serviço público.

Ambição e frustração de Charles Guiteau

Enquanto a popularidade de Garfield decola, Guiteau, agora morando de favor na casa da irmã, escreve panfletos se autoproclamando peça-chave da vitória republicana. Seu objetivo: ser recompensado com um posto diplomático em Paris, embora não tenha qualquer qualificação.

Nos episódios 3 e 4 de “Como um Relâmpago”, vê-se o abismo psicológico do antagonista. Cada porta fechada na Casa Branca aprofunda seu sentimento de traição. Guiteau passa a jurar que Deus o escolheu para “salvar” o país – crença que dará forma ao plano fatal.

Rejeição que vira obsessão

Ignorado por assessores e pelo próprio presidente, Guiteau conclui que só há um caminho para pôr Chester Arthur, vice-presidente alinhado ao velho sistema, no poder: eliminar Garfield. A minissérie mostra o momento em que ele compra a arma e treina disparos, sempre convicto de que age em nome de uma missão divina.

2 de julho de 1881: tiros na estação da Pensilvânia

O clímax dos quatro primeiros episódios ocorre na movimentada estação ferroviária de Washington. Sem escolta especial, Garfield se prepara para embarcar quando Guiteau saca o revólver e dispara duas vezes. O presidente cai ferido; a nação, em choque.

A produção destaca a medicina da época. O doutor Willard Bliss insiste em localizar a bala com instrumentos não esterilizados – prática que hoje soa absurda, mas era comum antes da teoria dos germes ganhar força. Garfield resiste ao ataque, mas a infecção provocada pelos procedimentos descuidados ameaça sua vida.

Guiteau, o julgamento e o desejo de fama

Após o atentado, Guiteau não foge. Pelo contrário, entrega-se exibindo orgulho e esperando reconhecimento público. Durante o julgamento, que a minissérie recria em ritmo tenso, ele discursa que “apenas obedeceu à vontade de Deus”. A postura arrogante contrasta com a lenta agonia do presidente.

A história também revela a visita de Lucretia Garfield, viúva do mandatário, à prisão. Diante dela, o assassino finalmente demonstra medo: ela promete apagar seu nome dos livros de história e impedir a publicação da autobiografia que ele escrevia na cela.

Consequências políticas imediatas

A produção encerra o quarto episódio destacando o impacto do crime. Garfield morrerá em setembro de 1881, quase três meses depois dos tiros, não pelas balas, mas pela septicemia instaurada. Com sua morte, Chester Arthur assume a presidência e, ironicamente, sanciona a reforma do serviço civil – bandeira pela qual Garfield lutava.

“Como um Relâmpago” deixa claro como o fanatismo individual e a negligência médica alteraram o curso da política norte-americana. A trama é conduzida com ritmo de thriller, ainda que se apoie em fatos documentados.

O cérebro esquecido e a crítica à memória histórica

O ponto de partida – o cérebro de Guiteau em um frasco – reaparece como símbolo da efemeridade da fama. Preservado, mas abandonado em depósito, lembra que a sociedade prefere apagar nomes ligados à loucura e à tragédia, guardando apenas as lições que elas deixam.

Por que “Como um Relâmpago” merece atenção

Ao longo dos quatro primeiros capítulos, a minissérie combina reconstituição histórica, estudo psicológico e suspense político. A direção mantém a tensão ao alternar cenas do Palácio Presidencial com os delírios de Guiteau, humanizando as motivações de ambos sem romanticizar o crime.

No catálogo do streaming, a obra chama a atenção dos assinantes do 365 Filmes por trazer um recorte inusitado da história dos Estados Unidos, pouco explorado em outras produções. A narrativa dinâmica, somada às atuações de Michael Shannon e Matthew Macfadyen, prende quem gosta de dramas biográficos com tempero de thriller.

O que vem depois do episódio 4

A Netflix disponibilizou a temporada completa, mas os quatro capítulos iniciais fecham um arco fundamental: o encontro das ambições de Garfield e Guiteau. Nos próximos episódios, o público verá o agravamento do quadro clínico do presidente, a evolução do julgamento e o destino final dos coadjuvantes que orbitam esse evento histórico.

Para quem busca séries curtas, baseadas em fatos e com narrativa eletrizante, “Como um Relâmpago” entrega uma história real que parece ficção, mas cujo peso político segue atual quando se discute fanatismo, poder e reformas governamentais.

Sou formada em Marketing Digital e criadora de conteúdo para web, com especialização no nicho de entretenimento. Trabalho desde 2021 combinando estratégias de marketing com a criação de conteúdo criativo. Minha fluência em inglês me permite acompanhar e desenvolver materiais baseados em tendências globais do setor.

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