Um novo estudo avalia o impacto da chamada “janela de exclusividade” – período em que um filme fica só nos cinemas antes de chegar ao digital – sobre o desempenho de bilheteria em 2025. O levantamento, feito pela empresa de análise Cinelytic, reuniu 30 longas lançados nos EUA e cruzou dados de exibição, arrecadação e audiência em streaming.
Os números colocam em xeque a ideia de que encurtar ou prolongar essa janela seja o principal culpado pelo baixo rendimento nas salas. Ao agrupar resultados de mercado, o relatório aponta que outros fatores, como o interesse do público no título, pesam muito mais. A seguir, veja os detalhes que movimentam a discussão dentro da indústria – um tema que o 365 Filmes acompanha de perto.
Como foi feito o levantamento
A Cinelytic analisou filmes que chegaram aos cinemas norte-americanos em 2025 e classificou cada um em três faixas de janela:
- 18 a 25 dias
- 26 a 45 dias
- 46 dias ou mais
Em paralelo, cada produção foi posta em outra triagem – “Sobreperformer”, “Dentro da meta” ou “Abaixo da meta” – comparando a bilheteria doméstica real com as projeções de mercado.
Janela média lidera arrecadação
O bloco de 26 a 45 dias apresentou o melhor resultado: todos os dez filmes nessa faixa alcançaram ou superaram o objetivo esperado. Entre eles estão títulos como “Sinners” (45 dias e US$ 278,6 milhões) e “Weapons” (32 dias e US$ 151,5 milhões), ambos acima das previsões.
Já as obras com janela de 18 a 25 dias, teoricamente favorecidas pelo acesso rápido em casa, não tiveram nenhum caso de superação de meta. Sete longas ficaram dentro do intervalo esperado, e cinco decepcionaram, casos de “M3GAN 2.0” (18 dias, US$ 24,1 milhões) e “Wolf Man” (18 dias, US$ 20,7 milhões).
E o grupo com janela longa?
Entre as janelas acima de 45 dias, aparecem sucessos como “Lilo & Stitch” (60 dias, US$ 423,7 milhões) e fiascos como “Snow White” (53 dias, US$ 87,2 milhões). Ou seja, ampliar o período exclusivo tampouco garante vitórias.
Desempenho no streaming deixa o cenário ainda mais confuso
Quando as mesmas produções chegaram às plataformas digitais, a fatia de audiência nos sete primeiros dias foi maior, novamente, para quem manteve janela intermediária. Os filmes de 26 a 45 dias conquistaram a maior parcela de espectadores no VOD, contrariando a tese de que lançar rápido dá vantagem.
Curiosamente, as obras com janela mais curta (até 25 dias) ficaram no fim da lista também no streaming, enquanto as de 46 dias ou mais apresentaram números apenas um pouco melhores. A lógica de que “se não vai ao cinema, vai ver em casa” não se confirmou.
A verdadeira correlação: interesse do público
Ao reorganizar o estudo segundo o desempenho nas bilheterias, uma tendência salta aos olhos. Filmes classificados como “Sobreperformers” e “Dentro da meta” repetem bom desempenho no digital, com picos acentuados no segundo dia de disponibilidade – momento em que a propaganda ainda ecoa.
Imagem: Imagem: Divulgação
Já os “Abaixo da meta” fracassam em ambos os ambientes. Se o público não se animou a comprar ingresso, tampouco apertou o play na TV. Isso sugere que o problema não é a janela, mas falta de apelo do conteúdo.
Casos emblemáticos da pesquisa
Veja alguns exemplos destacados no relatório:
- “Mission: Impossible – The Final Reckoning” (88 dias): US$ 197,4 milhões, dentro da meta.
- “Elio” (60 dias): US$ 72,9 milhões, abaixo da meta.
- “A Minecraft Movie” (39 dias): US$ 423,9 milhões, dentro da meta.
- “F1” (56 dias): US$ 189,5 milhões, acima da meta.
- “Smurfs” (25 dias): US$ 31 milhões, abaixo da meta.
Os resultados mostram que não há fórmula mágica. Produções de alto orçamento, marcas fortes ou campanhas de marketing eficientes conseguem público independentemente do tempo que ficam restritas às telonas.
O que muda para estúdios e salas
Com a pandemia acelerando a flexibilização das janelas, os grandes estúdios passaram a testar diversos formatos. Apesar disso, a Cinelytic conclui que a bilheteria perdida não “retorna” via streaming quando a janela é menor, nem se recupera com prazo maior.
Para as redes de cinema, a constatação reforça a necessidade de curadoria e eventos que criem desejo pela experiência coletiva. Já os distribuidores devem focar no engajamento pré-lançamento e na força das franquias, deixando a decisão sobre a janela como ajuste tático, não como salvação garantida.
O que esperar para 2026
Ainda que as estimativas apontem para um mercado alguns bilhões abaixo do que se via no final da década de 2010, a discussão sobre janela de exclusividade vai seguir no centro das negociações entre estúdios, exibidores e plataformas de streaming.
Se a tendência de 2025 se mantiver, o sucesso virá menos da matemática de dias e mais de histórias que convençam o público a sair de casa – ou, pelo menos, a não ignorar o título quando ele aparecer na tela inicial do aplicativo.
