Uma piscina, luzes neon e um remix de eurodance marcam os primeiros segundos de Yes, novo longa de Nadav Lapid. Enquanto a câmera flutua por uma festa regada a drogas e música eletrônica, um detalhe salta aos olhos: a pintura “The Pillars of Society”, de George Grosz, aberta sobre a mesa de centro.
A escolha não é casual. Em 1926, Grosz atacava a elite alemã complacente com o crescimento do nazismo. Lapid atualiza essa crítica ao mirar a realidade israelense logo após o ataque do Hamas em 7 de outubro. O resultado é o filme Yes, uma comédia feroz que transforma o cotidiano em palco para denunciar propaganda estatal, privilégios de classe e indiferença diante da violência.
Enredo de Yes coloca Tel Aviv em meio ao caos
A trama se passa em Tel Aviv. Um dia depois da ofensiva do Hamas, o músico Yud, ou simplesmente Y (Ariel Bronz), e a esposa Yasmine (Efrat Dor) trazem o primeiro filho ao mundo. A recém-formada família tenta viver normalmente, mas sirenes, notificações de mortes e explosões à distância interrompem tarefas simples, como fritar um ovo ou embalar o bebê.
Lapid usa esses contrastes para expor o que chama de “banho de sangue de Gaza”. Notícias de prédios destruídos surgem no celular do protagonista enquanto a vida doméstica continua, reforçando a sensação de anestesia coletiva. Para Y e Yasmine, desligar o telefone torna-se ato de sobrevivência — e de conivência.
Festas luxuosas em meio à guerra
Convidados para uma celebração do 76º aniversário do Estado de Israel, o casal circula entre empresários e intelectuais que parecem imunes ao conflito. Avinoam (Sharon Alexander), bronzeado artificial e vape sempre à mão, quebra a quarta parede para acusar o público de antissemitismo caso questione a ofensiva militar. É o nacionalismo transformado em personagem.
Crítica social direta e humor ácido permeiam o filme Yes
O filme Yes alterna cenas hilariante e dolorosas em ritmo de videoclipe. Em momento simbólico, Avinoam sacode a cabeça tão rápido que o rosto vira uma tela de TV, diálogo visual sobre propaganda fabricada. Em outro, Y recebe a “honra” de compor um novo hino nacional com versos que celebram a destruição de Gaza, encomendado por um bilionário russo conhecido apenas como Big Billionaire (Aleksey Serebryakov).
Na segunda metade, o tom assume contornos mais sóbrios. Y abandona temporariamente a família para trabalhar no hino, enquanto Yasmine luta para receber salário no emprego de personal trainer. A falta de dinheiro contrasta com os jantares caros frequentados pelo casal, ressaltando desigualdades que atravessam a narrativa.
Viagem à fronteira de Gaza
Ao reencontrar a ex-namorada Lea (Naama Preis), ex-soldado israelense, Y percorre estradas próximas ao enclave palestino. Lea relembra em detalhe o ataque que separou uma família, declarando: “Você não imagina como é viver em Gaza, mas também não imagina como é ser israelense”. A fala sintetiza o foco de Lapid: denunciar não apenas o sofrimento palestino, mas o impacto moral do conflito sobre a própria sociedade judaica.
Imagem: Imagem: Divulgação
Elenco e equipe destacam a visão de Lapid
Nadav Lapid assina roteiro e direção. Shai Goldman opera a câmera como observador inquieto, deslizando por festas, apartamentos e estradas, reforçando a ideia de testemunho. Ariel Bronz interpreta Y com energia autodestrutiva, enquanto Efrat Dor entrega vulnerabilidade e raiva em doses iguais.
Sharon Alexander encarna o porta-voz da propaganda, e Aleksey Serebryakov surge como magnata oportunista. A trilha embala a narrativa com batidas de EDM que remetem ao festival de música atacado em 7 de outubro, lembrando ao público que a diversão pode virar tragédia em segundos.
“Quero matar nossos pais”
Durante jantar refinado, Yasmine dispara: “Quero matar nossos pais; eles venderam um mundo que não existe”. A frase resume o cansaço de uma geração que herda promessas vazias em meio a conflitos intermináveis, tópico caro ao portal 365 Filmes, que acompanha estreias politizadas como essa.
Detalhes de lançamento e duração
Com 150 minutos de duração, Yes chega aos cinemas em 17 de setembro de 2025. Classificado como drama, o longa mantém o humor corrosivo para provocar risos nervosos e reflexões imediatas. Lapid, que vive atualmente na França em autoexílio, retorna ao país natal apenas para filmar e testemunhar o que define como “apocalipse em tempo real”.
Para quem acompanha produções engajadas, o filme Yes surge como obra indispensável. Além de questionar a facilidade com que notícias sangrentas são consumidas e descartadas, a narrativa examina até que ponto a busca por sucesso pode corroer valores individuais.
Com essa mistura de sátira, denúncia e tragédia, Nadav Lapid firma mais um capítulo em sua filmografia crítica, convidando o público a refletir sobre quem lucra — e quem sangra — em meio à guerra.
