Corpos em transformação, egos inflados e o medo constante de não pertencer: esses são os pilares de The Plague, primeiro longa-metragem de Charlie Polinger.
Apresentado na mais recente edição do Festival de Cannes, o filme mergulha no universo de um acampamento de polo aquático em 2003 para discutir bullying, misoginia e outras fobias sociais.
Enredo de The Plague: o acampamento que vira campo de batalha
A história gira em torno de Ben (Everett Blunck), garoto de 12 anos que chega ao Tom Lerner Water Polo Camp como novato. A mudança decorre de um caso extraconjugal da mãe, o que já o coloca em posição de fragilidade emocional.
Logo de início, Ben tenta se enturmar com Jake (Kayo Martin) e seu grupo, garotos que exibem uma autoconfiança forçada. Para ganhar espaço, eles ostentam histórias sexuais inventadas e impõem apelidos cruéis a qualquer “diferente”.
A figura de “Daddy” Wags
Responsável pelo time, o técnico “Daddy” Wags (Joel Edgerton) se mostra incapaz de conter a escalada de agressões. Sua promessa de ser mentor de Ben não se concretiza, contribuindo para a sensação de abandono que paira no local.
O garoto marcado pela peste: quem é Eli?
Eli (Kenny Rasmussen) torna-se o alvo principal. Portador de uma erupção cutânea, ele usa camiseta de lycra para nadar, mas a proteção vira motivo de lenda: Jake espalha que a doença é lepra, “contagiosa ao toque”.
O boato se alastra, criando o “vírus” social que dá nome ao filme. Assim, a “peste” não é apenas a condição de Eli, mas também o preconceito que contamina o grupo. Para o site 365 Filmes, essa metáfora é o cerne da obra.
Conflito interno de Ben
Dividido entre a empatia por Eli e a vontade de ser aceito, Ben comete traições que o afastam de si mesmo. Quando decide defender o colega, acaba igualmente isolado e submetido a rituais de violência subaquática típicos do esporte.
Ambientação sufocante e escolhas estéticas
A fotografia de Steven Breckon valoriza corredores fluorescentes, azulejos úmidos e o brilho turvo da piscina, criando atmosfera claustrofóbica. A água mistura suor e cloro, sugerindo que a puberdade é um líquido tóxico que tudo contamina.
A trilha de Johan Lenox, com acordes de órgão e vocais operísticos, intensifica a ansiedade. Embora alguns espectadores considerem o som repetitivo, ele reforça a ideia de que não há alívio possível naquele microcosmo.
Imagem: Imagem: Divulgação
Atuações jovens em destaque
O elenco é formado por atores sem vasta experiência, mas o resultado impressiona. Everett Blunck oferece vulnerabilidade genuína, enquanto Kayo Martin transborda uma sociopatia casual que assusta pela naturalidade.
Fatos essenciais sobre o filme The Plague
Título original: The Plague
Gêneros: horror, drama
Duração: 95 minutos
Direção e roteiro: Charlie Polinger
Produtores: Joel Edgerton, Lizzie Shapiro, Lucy McKendrick, Derek Dauchy, Roy Lee, Steven Schneider
Data de lançamento: 2 de janeiro de 2026
Classificação indicativa: R (para maiores nos EUA)
O longa usa ambientação de 2003, período de auge de homofobia e islamofobia no Ocidente, como pano de fundo para questionar a construção da masculinidade. Contudo, o roteiro evita citar explicitamente esses temas, apostando na sugestão.
Recepção em Cannes
A exibição na Croisette foi marcada por reações divididas. Críticos elogiaram a tensão constante e a direção segura, mas apontaram que a narrativa por vezes “patina” ao explicitar demais suas metáforas.
Por que o filme atrai atenção do público brasileiro?
Temas como bullying escolar, necessidade de pertencimento e violência simbólica ressoam em qualquer sociedade. No Brasil, casos de agressão em colégios frequentemente ocupam manchetes, o que torna The Plague um espelho incômodo.
Além disso, a presença de Joel Edgerton, conhecido por A Lenda de Tarzan e O Presente, deve aumentar o interesse nos cinemas nacionais quando a estreia ocorrer.
Com atmosfera sufocante e crítica contundente à hierarquia social entre meninos, The Plague promete provocar desconforto – e reflexão – no público quando chegar às telas em 2026.
