Springsteen: Deliver Me From Nowhere chega aos cinemas prometendo revelar as dores e a genialidade por trás de Nebraska, álbum cultuado de Bruce Springsteen. Dirigido por Scott Cooper, o longa aposta em Jeremy Allen White para encarnar o astro numa fase de crise criativa e pessoal.
Apesar da performance magnética do protagonista, a produção tropeça em soluções narrativas convencionais que deixam de lado a complexidade do disco lançado em 1982. A seguir, o Resumo de Novelas destrincha o que funciona e o que afasta o filme de se tornar o tributo definitivo ao Boss.
Premissa: álbum Nebraska no centro do enredo
O roteiro, adaptado do livro homônimo de Warren Zanes, concentra-se no período logo após a turnê de The River. Pressionado pela gravadora Columbia a repetir o sucesso comercial, Springsteen prefere isolar-se em Colt’s Neck, Nova Jersey, gravando em casa com um simples gravador Echoplex.
Nesse cenário, surgem as 10 faixas de Nebraska, registradas inicialmente como demos folk introspectivas. Cooper acompanha o processo, mostrando a depressão de Springsteen aos 32 anos, o relacionamento conturbado com o pai Douglas e o apoio incondicional do empresário Jon Landau.
Atuação de Jeremy Allen White domina a tela
White entrega um Bruce curvado, desconfiado e sempre meio virado de costas, como se tentasse proteger a própria vulnerabilidade. Nos bastidores, o corpo tenso e suado remete a um boxeador esgotado; no palco, explode em energia, transmitindo o magnetismo lendário dos shows do Boss.
Essa entrega física e emocional sustenta grande parte do interesse. Nas cenas de estúdio, o ator transmite a posse quase sobrenatural que Springsteen descreve ao compor. O resultado é um retrato convincente de um artista dividido entre a necessidade de expor a dor e o impulso de escapar dela.
Roteiro aposta no literalismo e tropeça em clichês
Referências musicais explicadas demais
Ao invés de sugerir, o filme sublinha: mostra o pai e o jovem Bruce diante de uma mansão, corta para o cantor anotando Mansion on a Hill; repete o processo em Atlantic City. Cada canção ganha uma “cena ilustrativa” que dispensa interpretação do público.
Flashbacks em preto e branco
As memórias de infância surgem filtradas por fotografia monocromática, escolha que aproxima a estética de um telefilme e reduz a sensação de lembrança viva. A persistência de narrações expositivas, principalmente nas falas de Jon Landau (Jeremy Strong), reforça a sensação de didatismo.
Imagem: Imagem: Divulgação
Romance traz respiro, mas perturba a coesão
A relação com Faye, mãe solo vivida por Odessa Young, oferece momentos de ternura rara no longa. A química entre Young e White convence, e a dinâmica entre artista famoso e mulher da classe trabalhadora dialoga com a própria lírica de Springsteen.
Porém, essa subtrama parece pertencer a outro filme, pouco integrada ao foco na criação de Nebraska. Quando a narrativa retorna ao estúdio, a tensão romântica se perde em diálogos que voltam a explicar processos musicais já entendidos.
Ficha técnica e data de estreia
Springsteen: Deliver Me From Nowhere tem direção de Scott Cooper, roteiro coassinado com Warren Zanes e 112 minutos de duração. O elenco traz ainda David Krumholtz (Al Teller), Stephen Graham (Douglas Springsteen) e Vienna Barrus (Haley). A estreia está marcada para 24 de outubro de 2025.
Com nota 4/10 na avaliação original, o filme acerta ao escalar Jeremy Allen White para viver Bruce Springsteen, mas cai em armadilhas do gênero biográfico ao simplificar a inspiração de um disco que, na vida real, recusou promoção, turnê e até a imagem do cantor na capa.
Springsteen: Deliver Me From Nowhere entrega belas imagens e um protagonista hipnotizante, mas seu excesso de explicações impede que a essência enigmática de Nebraska ecoe na tela. Você pretende conferir a produção? Conte pra gente nos comentários e acompanhe as próximas novidades aqui.
