Jim Jarmusch retorna ao cinema com Father Mother Sister Brother, longa-metragem que combina humor satírico e um toque de melancolia, marcas registradas do diretor. A produção apresenta três histórias distintas sobre amor, perda e reconciliação que, apesar de independentes, compartilham o mesmo tema central: família.
A ousadia da estrutura em segmentos salta aos olhos, mas nem sempre convence. Embora cada capítulo ofereça momentos de brilho, a união entre eles por vezes soa forçada, criando a sensação de três curtas presos sob o mesmo título.
Sinopse e formato incomum
Father Mother Sister Brother se divide em três atos ambientados em locais diferentes do mundo, sem personagens em comum. O fio condutor é a reflexão sobre responsabilidades familiares e o ato de amadurecer.
No primeiro episódio, dois irmãos adultos visitam o pai recluso em um chalé no noroeste dos Estados Unidos e percebem que ele talvez não seja tão frágil quanto imaginavam. Já no segundo, duas irmãs tentam retomar o contato com a mãe durante um chá tenso em uma casa europeia. O terceiro ato muda drasticamente de tom ao acompanhar gêmeos que perderam os pais em um acidente aéreo recente, substituindo a leveza inicial por uma carga emocional mais densa.
Três histórias, um mesmo tema
A proposta de mostrar facetas diferentes de um mesmo assunto é ambiciosa. Contudo, críticos observam que a repetição de ideias entre o primeiro e o segundo segmentos compromete o ritmo, tornando a transição para os novos protagonistas um desafio para o público.
Diálogos afiados garantem o riso
Apesar das possíveis falhas de coesão, o roteiro se destaca pelos diálogos econômicos e bem-humorados. Jarmusch evita piadas complexas e referências internas, apostando em silêncios constrangedores e tiradas curtas que espelham situações cotidianas de qualquer reunião familiar.
Essa abordagem faz com que o espectador se reconheça nas cenas, rindo mais pela identificação do que pela construção de gags. O resultado é um humor que não força a barra e se mostra eficaz mesmo em passagens mais lentas.
Adam Driver e Cate Blanchett brilham
Adam Driver domina o primeiro capítulo como Jeff, recém-divorciado incapaz de negar pedidos do pai. Seu timing cômico, aliado a uma postura contida, rende momentos de riso fácil. Cate Blanchett assume o centro do segundo ato como a filha perfeccionista que não sabe conversar com a mãe, oferecendo uma performance contida e bem distante de seus papéis mais glamourosos.
Quando a estrutura vira obstáculo
A maior crítica feita ao filme é justamente a escolha de três narrativas autônomas. A chegada de novos personagens quase uma hora depois da abertura exige do público uma conexão imediata que nem sempre ocorre. Enquanto o primeiro segmento é considerado o mais sólido, o segundo é visto como uma variação do mesmo tema em cenário diferente, diminuindo o impacto da novidade.
O terceiro bloco, por sua vez, muda de registro, abandonando grande parte do humor para mergulhar em reflexões sobre luto. Essa ruptura tonal, segundo analistas, pode causar estranhamento e afastar espectadores já habituados às piadas discretas dos capítulos anteriores.
Imagem: Imagem: Divulgação
Repetição de ideias
Críticos apontam que, embora cada episódio contenha camadas temáticas, o filme retorna às mesmas situações de forma circular. Resultado: a narrativa parece se prolongar além do necessário, gerando sensação de arrasto em alguns trechos.
Elenco carismático segura a atenção
Além de Driver e Blanchett, o elenco reúne Vicky Krieps, Tom Waits e novos talentos para dar vida aos múltiplos núcleos. Cada ator atua em apenas um segmento, reforçando a identidade própria de cada história e evitando confusões de continuidade.
Os destaques incluem a química natural entre Blanchett e Krieps como irmãs em crise e a presença sempre marcante de Tom Waits no papel do patriarca no prólogo. Mesmo quando o roteiro patina, as interpretações mantêm o interesse do público.
Ambiência e direção
A fotografia acompanha o tom de cada capítulo: paisagens enevoadas no chalé, luz suave na casa de campo europeia e cenários urbanos mais frios na parte final. A trilha sonora discreta complementa o clima intimista, característica constante nas obras de Jarmusch.
Informações técnicas e lançamento
Father Mother Sister Brother tem 110 minutos de duração, classificação indicativa para maiores de 17 anos e estreia mundial marcada para 24 de dezembro de 2025. O filme é escrito e dirigido por Jim Jarmusch, com produção de Atilla Salih Yücer, Charles Gillibert, Joshua Astrachan e Carter Logan.
Entre os gêneros declarados, a obra transita entre comédia e drama, adotando o formato de vinheta para explorar dinâmicas familiares. A crítica internacional atribuiu nota média 7/10, destacando o humor refinado, porém sinalizando problemas de ritmo e coesão narrativa.
Por que o lançamento chama atenção
A junção de um cineasta cultuado, elenco de peso e uma estrutura narrativa pouco convencional faz do longa uma das estreias mais comentadas nos fóruns de cinema. O site 365 Filmes já monitora a recepção do público, que deve se dividir entre quem abraça a fragmentação e quem prefere histórias mais lineares.
No fim, Father Mother Sister Brother confirma tanto as virtudes quanto as limitações do estilo Jarmusch: diálogos certeiros, atmosfera introspectiva e coragem para experimentar, ainda que nem sempre os elementos se encaixem com perfeição.
